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sexta-feira, 25 de março de 2011

Mil vidas você.


Ele é forte, já passou por cada uma, vai sair dessa. Claro que sim, eu pensei, mas em súbito lembrei que um dia, os fortes também desabam.


Você ficaria dias ali por mim, esperando sentadinho na frente do portão, olhar baixo e respiração ofegante, era assim e sempre foi. Avistasse a minha chegada, era uma faceirice só, também não seria para menos, quatorze anos de convivência, companheirismo mesmo, sem pestanejar em momento algum. Levava-me até a porta da escola, e quando eu saia, lá estava você novamente, me esperando. Corria rua comigo, apesar de menina, sempre fui moleque. Lembro à tardinha, com livro em mãos concentrada na minha leitura, pensando estar sozinha, viajando entre as linhas e as histórias, você estava do meu lado, em silêncio, mas estava ali, muitas vezes apenas esperando por um misero carinho meu, nem sempre dado, mas você esperava. Que sentimento ruim esse de quase perder e depois recuperar, porque são naqueles minutos de coração disparado, onde a adrenalina toma conta, que você não sabe se sai correndo se esconder e chorar ou se fica e luta. Vai à luta! Aí a gente fica pra lutar, e agarra a coisa com as mãos, e vê as chances uma a uma escorregando entre os dedos, imagina coisas, imagina milhares de coisas, frenesi total. Medo. Até que você enxerga uma das chances querendo ficar, agarra com a ponta das unhas, com todas as forças que tem nos dedos, e não a deixa escapar. Ela está ali, e ela é sua. Mas é essa sensação de quase ter perdido que deixa o gosto amargo na boca esse mesmo gosto que se engole seco, porque você percebe que enquanto tudo estava de certa forma bem, enquanto não houve o risco, enquanto não foi passado o susto, você agia apático em relação a quem te ama em relação a quem está perto de você. E então eu digo que não é preciso você perder, ou quase perder pra APRENDER a dar valor. Dê um abraço especial e sincero hoje, mesmo que seja de despedida.


Imagem Por: Ygor Marotta.